28 de outubro de 2013

Trail Camp com Armando Teixeira




O próximo desafio não é uma prova, é um campo de treino. Aprender nunca é demais, como todos concordarão. E se é para aprender então que seja com quem sabe.

Tenho treinado e aprendido muito. Mas chega a uma altura que precisamos de mais. De saber mais. Temos algumas certezas mas muitas dúvidas: desde a alimentação, ao treino, passando pelo equipamento a adquirir... Tudo é uma imensidão de possibilidades e variantes. Ter a possibilidade de trocar impressões com pessoas que habitualmente fazem o mesmo que nós é praticamente um chá das cinco, mas neste caso, sem direito a bolachas de chocolate!

Quando soube que o Armando Teixeira estava a organizar um evento destes - e ainda por cima na Serra da Estrela - não pensei duas vezes. Pensei três: vais correr, vais aprender e vais para a galderice!Aliar a corrida à aprendizagem e, tudo isto, fazendo uma escapadinha à Serra da Estrela... Super!!!!

Espero que este Trail Camp seja rico em conteúdos e troca de experiências. Espero vir de lá com mais bagagem do que aquela que levo. Este é daqueles eventos em que vou muito mais para ouvir e aprender do que para dar. Para já... E como diz o ditado: quem dá o que (não) tem...



Aqui fica a agenda do evento:


Dia 1 Novembro
19.00h Recepção e instalação dos participantes

Dia 2 Novembro
08.00h Introdução, informações e apresentação individual dos atletas

08.30h Workshop – Segurança em montanha (com o coordenador da especialidade de busca e resgate Capitão Cláudio Quelhas)

09.30h Trail de 15km
  • Workshop prático de técnicas de corrida (com Armando Teixeira:
    • Subida-descida
    • Utilização de bastões

13.00h Almoço

15.00h Workshop / Debate sobre Multidisciplinaridade do trail, metodologia de treino, preparação de uma prova (com o Professor e Treinador de Ultra Maratonistas Paulo Pires e Armando Teixeira)

17.00h Workshop sobre material e sua especificidade de Trail running (com Marco Martinho – Run.pt e Armando Teixeira)

18.30h Treino noturno

21.00h Jantar tertúlia


Dia 3 Novembro
06.00h Trail de 30 – 40km  (viatura de apoio e reforço alimentar)

13.00h Almoço

15.00h Workshop sobre Nutrição e Lesões Desportivas (com Joana Graça, Licenciada em Enfermagem e Curso Avançado em Enfermagem do Desporto)

16.30h Encerramento das actividades

Mais informações no site do Armando Teixeira.

23 de outubro de 2013

Marathon des Sables: aviso à navegação

Caros amigos e amigas,

O post anterior gerou aqui algum entusiasmo que, desde já, agradeço e espero que perdure. Tal como disse nalguns comentários este desafio, para mim, significa metade. Mas quando disse metade não me estava a referir ao percurso. E por isso quero esclarecer. Até já acho que o faço tarde, pois parece que andei aqui a anunciar a Boa-Nova e afinal de contas... 

Então vamos lá contar a história. O sonho da Maratona das Areias é partilhado entre mim e o Paul Michel.

A primeira vez que ele ouviu falar desta prova foi há muitos anos, ainda nem sequer corria, pela boca de um francês que lhe explicou em que consistia esta prova. Na altura, obviamente, que o pensamento foi: como é possível? Correr duzentos e tal quilómetros no deserto? Em (quase, quase) auto-suficiência?

Anos mais tarde, e ambos a partilhar este "vício" da corrida, comentámos um com o outro: vamos lá um dia? E eu disse logo: sim, vamos os dois! Ainda tive o pensamento romântico em ir celebrar as bodas de qualquer-coisa à Maratona das Areias. Mas o romantismo dos homens consegue sempre surpreender-nos...

Acontece que o Paul Michel não quis esperar por mim. E quando em Novembro de 2012 me diz: quero fazer a Maratona das Areias em 2014! Eu prontamente disse: então vais sozinho... E vai!

É, portanto, APENAS ele quem vai levar o sapatinho voador para as areias do deserto.

Mas engane-se quem acha que este desafio é só dele. Sem modéstia afirmo já aqui que metade desta prova é minha! Metade desta prova é alcançada (também) por mim. Muitos de vós sabem, e já aqui o disseram, que metade do desafio de uma grande prova é o treino, a preparação. E aqui não é excepção.

Até Abril do ano que vem a nossa vida leva uma volta tipo looping em montanha russa. O plano de treinos é muito pesado e exigente, as restrições alimentares são imensas (ainda tem que perder alguns quilos, para compensar o peso da mochila que vai carregar). A concentração dele para este objectivo está a levá-lo a abdicar da vida social e até familiar.

Vai tentando fazer o que pode e tenta conciliar todas as dimensões da sua vida com este sonho. Mas não é fácil. Não é fácil para ele que se vê impossibilitado de fazer algumas das coisas que gosta e não é fácil também para mim. Sei que foi uma decisão a dois, tal como tantas que já tomámos na nossa vida. Mas antevejo uma carga de emoções, uma carga de trabalhos, uma carga de imprevistos, uma carga de preocupações que em alguns momentos me faz pensar: não haverá sonhos demasiado ambiciosos?

Somos sempre os primeiros a encorajar os outros a seguir os seus sonhos, somos sempre os primeiros a chegar à fila da frente para dizer FORÇA... Mas quando calmamente nos sentamos a escrever sobre as coisas às vezes pensamos: valerá mesmo a pena, faz sentido? Para quem não vive disto, faz sentido?

Alguém me dizia no outro dia: "deixa o homem sonhar"...

Eu deixo... 

 Paul Michel, nascido na capital dos Alpes franceses e criado na Beira, a sonhar com a Marathon des Sables

Peço desculpa a todos quanto causei uma ideia errada sobre a minha (não) participação na Maratona das Areias. Peço-vos que guardem esse entusiasmo na gaveta porque tenho esperança em receber como presente das bodas de prata uma "viagem romântica à Maratona das Areias" (deserto, acampamento, calor, seis dias sem tomar banho, unhas negras, comida liofilizada... Que mais uma mulher pode querer?)

Conto convosco nesta viagem!

21 de outubro de 2013

A Madrinha


Sábado passado aconteceu pela primeira vez na Europa a Night Run. Lisboa foi a cidade escolhida.

Lisboa que esteve, até uma hora antes, debaixo de água. Água essa que deixou as ruas escorregadias. Ruas essas que não se encheram de pessoas. Pessoas essas que não aplaudiam o evento. Evento esse carregado de fluorescente e "pirilampos" saltitantes que obrigavam a desviar o olhar. Olhares esses que questionavam o porquê de se estar a correr aquela hora da noite. Noite essa que nos presenteou com uma temperatura amena e nuvens cinzentas. Nuvens essas que esconderam a lua. Lua essa que não foi precisa para iluminar o percurso. Percurso esse que se fez, com pouca animação, pelas ruas da cidade. Cidade essa que se iluminou de cor, movimento e alegria. Alegria essa que só se via no rosto de quem participava numa das provas que se quer como a mais animada do mundo. Mundo esse que gira e carrega sobre si corredores ávidos de alcançar uma boa marca em prova. Prova essa que teve 10km de pura descontração sobretudo para veteranos e não tanto para principiantes. Principiantes que não escondiam o nervosismo e a vontade de correr pelas ruas de Lisboa. Lisboa essa que não adormeceu sem que o último corredor cortasse a meta...

Foi assim a Night Run Portugal 2013.

A Night Run poderia ter sido, para mim, apenas mais uma prova de 10km. Mas não foi. Foi uma prova da qual guardarei boas memórias. Porquê? 

Faltava apenas meia hora para a partida encontrei-me com a Ana, a Fiona e o Bluesboy. A partida dá-se e estes dois já iam endiabrados. Por duas vezes ainda olharam para trás, mas eu e a Ana seguimos ao nosso ritmo e lá lhes disse: "Ide à vossa vida!" Fazia questão de acompanhar a Ana. A Ana é uma amiga que iria fazer pela primeira vez uma prova de 10km.

Ainda nem sequer tínhamos chegado à Praça do Comércio quando deixei de os ver. A esta altura a Ana estava muito bem. Quando começámos a subir em plena Praça dos Restauradores abrandámos um pouco. Subidas são sempre subidas. E para quem não está muito habituado a fazê-las custa um pouco. Já no retorno a Ana começa a sentir dor de burro, neste caso, dor de burra! :) Disse-lhe para abrandar e passados poucos minutos parámos um pouco para ela fazer uma "espécie" de agachamento. Comigo resulta sempre, com ele resultou assim-assim.

A zona do Rossio e da Av. da Liberdade tinha algumas pessoas a ver, mas infelizmente pouca gente aplaudia e dava ânimo aos participantes. Quem mais o fazia era, como costume, os estrangeiros! Ouvia-se: "go, go, go"! E até um "Run, Forrest, run!" Eu gosto particularmente de ver as pessoas envolvidas nas provas, a vibrar, a aplaudir, a gritar... Aqui houve muito pouco disso.

Continuámos no nosso percurso até se dar a separação com a prova dos 5km em pleno Terreiro do Paço. A partir dali começou a parte mais aborrecida da prova. O percurso até (quase) Alcântara dá-se por ruas desertas e desprovidas de qualquer animação. Nesta fase da corrida eu só fazia duas coisas: ou perguntava à Ana como ela se estava a sentir ou olhava para a outra faixa de retorno da prova para ver se via pessoas conhecidas. Vi a Piolha, vi os Tarahumara e fui vendo outras caras conhecidas. 

O retorno dá-se quase a chegar à Av. Infante Santo onde ouvimos uns simpáticos: "vá, já falta pouco! Força!" A propósito disto faço daqui um reparo. Aborreci-me por duas duas vezes com os voluntários.

Passo a explicar: voluntário significa alguém que realiza uma ação de livre vontade, sem receber qualquer remuneração. Se o faz de livre vontade é porque gosta ou acredita na causa. Por isso mesmo, deve essa ação ser realizada com todo o empenho e dedicação (até mais do que se fosse remunerada, em meu entender...). Se assim não for, mais vale não ser voluntário. Ser voluntário não é fazer figura de corpo presente, é trabalhar como se não houvesse amanhã! É acreditar na nossa causa, seja ela desportiva, social ou outra.

Ser voluntário num evento desportivo desta natureza - e sobretudo numa prova que almeja ficar conhecida como a mais animada do mundo -, significa, acho eu, incentivar os participantes: gritar, pular, cantar, fazer striptease... Qualquer coisa! Tudo menos estarem em grupinhos, à conversa e sem sequer dar qualquer tipo de apoio aos participantes! (Obviamente que esta crítica não é extensível a TODOS os voluntários, certamente alguns terão feito um bom trabalho, mas por duas vezes encontrei grupos que conversavam ou que estavam impávidos e serenos a olhar...). Não pode!

[Fim do momento Diacóno Remédios.] 

Já quase a chegar ali à zona do Cais do Sodré a minha memória obriga-me a sorrir. Lembro-me das minhas noitadas com as amigas ali pelo Jamaica, Pensão Amor... Engraçado... Como a minha vida mudou. Agora o meu conceito de sair à noite com amigas é bem diferente... Desafio uma amiga para ir correr até que chega um dia e ela vai fazer uma prova! E depois de fazer a prova termina assim: feliz e com aquele sorriso no rosto! 



Sorte a da organização que tem caras destas a cortar a meta!

A madrinha babada atrás da sua afilhada!

Antes da prova houve tempo para socializar um pouco com alguns elementos da organização e registar um momento com um grande atleta que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, arrecadando a medalha de prata nos 100m.

 Ana, Francis Obikwelu e eu.

Já no final quem me chama?? A Marta! Ali estava ela, simpática, à minha espera (tal como lhe pedi quando a avistei: "espera por mim na meta!"). E ela esperou! Houve tempo para uma troca de palavras e perceber que a Marta é uma menina cheia de força e que vai longe! 


Eu, a Ana e a Marta: todas com ar de enfado, não é?

Depois de ver a Marta ainda tive tempo para uma breve troca de palavras com os Tarahumara, que também aguardaram na meta. Grupo muito simpático que vive a corrida com um espírito semelhante ao meu. Continuem a marcar presença por essas provas fora, pois o encarnado das vossas t-shirts inspira aquele sentimento forte... A paixão... A paixão pela corrida!

Para mim, a Night Run poderia ter sido apenas mais uma corrida de 10km. Teve animação no Terreiro do Paço, muitos figurantes, muitos participantes, mas para mim esta corrida foi muito mais que isso. Foi o sentir mais uma história como tantas outras que existem. Existem muitas 'Anas' por aí, muitas 'Martas', muito 'Tarahumaras'. Muitas mulheres e homens que um dia saem de casa e decidem começar a correr. Uns com motivo, outros sem motivo. Correm porque sim e porque não. Cansam-se porque correm. Choram porque correm. Sorriem porque correm. Lesionam-se porque correm. Ganham troféus porque correm. Batem recordes porque correm. Desistem porque correm. Mas acima de tudo... Correm e são felizes! E são felizes porque correm! 

A Ana é mais um exemplo de alguém que acha que a sua vida vai para além do trabalho e da família. Perguntem à Ana, quando a virem, se ela não é mais feliz? Perguntem à Marta, se a virem, se ela não é mais feliz? Perguntem aos Tarahumara se os virem (é fácil, correm de encarnado!) se não são mais felizes?

Boas corridas e sejam felizes!



15 de outubro de 2013

RUN BABY RUN na TV


http://cmtv.sapo.pt/programas/manha_cm/detalhe/corra-por-uma-boa-causa.html

Aqui fica o link para a conversa de hoje de manhã.

Na sequência da colaboração com a organização da Night Run fui ao programa da manhã da CMTV falar de... Corridas!

Tanta mensagem que gostava de passar, tanto discurso ensaiado, mas em televisão os minutos valem ouro. E a regra é de ouro: só falar quando o apresentador nos dá a palavra.

Ainda assim, uma excelente experiência na presença de ilustres convidados: Jorge Pina, parceiro da Night Run e Arrumadinho.

Até sábado, night runners!

Reticências




Sou assim. A escrever e a correr.

14 de outubro de 2013

E quem são os Night Runners vencedores???


Como vencedores temos uma menina e um menino! Fico satisfeita por ficar garantida a igualdade de oportunidades!

E os vencedores são:


MARTA FEIO e CARLOS GUERREIRO


Muitos parabéns a ambos e que tenham uma óptima Night Run!
Fiquem atentos às vossas caixas de correio.

11 de outubro de 2013

Se isto não é estilo... [7]

Só para aliviar das correrias das últimas semanas, deixo-vos estes dois mimos que encontrei e gostei. Os nossos ténis e t-shirts de treino servem só para correr?




9 de outubro de 2013

Night Run Portugal'13 - Tenho dois dorsais para oferecer!


O maior circuito de corrida nocturna do mundo chegou aqui ao blogue!

A Night Run é um evento desportivo da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), organizado em parceria com a MAG Brand & Entertainment e com a colaboração da Câmara Municipal de Lisboa. Esta prova faz parte do calendário oficial da FPA e insere-se no maior circuito de corrida nocturna do mundo. Existem dois percursos: um de 5km e outro de 10km. Sendo esta a primeira edição realizada na Europa, a cidade escolhida foi Lisboa. É já no próximo dia 19 de Outubro pelas 21h com partida e chegada no Terreiro do Paço.

Por cortesia, a organização da prova disponibilizou-me dois dorsais para oferecer. Para se habilitarem basta enviar um email para blog.runbabyrun@gmail.com, com o vosso nome completo e data de nascimento e responderem à seguinte pergunta:


Qual o país de origem da Night Run?

Ó Xenti!! Sábi não? Então péga uma caipirinha no butéco da isquína e apanha um pórri e isqueci o assunto. Si sabi mi dê a respósta e no djia da próva vai dizê: dorsau, si prepari qu'eu vou lhi uzá!

Fácil, fácil, fácil! Se não sabem liguem a um amigo. A ajuda do público ou a ajuda 50-50 aqui não vale. A todas as respostas corretas atribuirei um número, conforme ordem de chegada, e depois os vencedores serão seleccionados aleatoriamente (através do sistema Random.org). Atenção: apenas aceitarei uma inscrição por email.

Está a contar a partir de agora até 6ª feira às 23h59m. Divulgarei os resultados aqui no blogue na segunda feira dia 14 de Outubro.

E dia 19 de Outubro lá nos encontramos!

Boa sorte e boas corridas!

7 de outubro de 2013

Finalmente a minha primeira meia-maratona!

Talvez não se lembrem ou provavelmente ainda não andavam por aqui a bisbilhotar, mas queria recordar-vos daquela que era para ser e não foi a minha 1ª meia-maratona. Na altura confesso que até chorei. Tanta expectativa, tanta preparação e depois... Fico doente. Mas passou. E outros desafios foram surgindo para que a tristeza e frustração de nem sequer pisar o tabuleiro da ponte 25 de Abril se fossem desvanecendo ao longo dos tempos.

Mas claro que a vontade de fazer uma meia-maratona perseguiu-me sempre. Na altura lembro-me ter decidido que gostava de fazer a minha primeira meia-maratona em Lisboa, a minha cidade que tanto gosto. Tal como também já decidi que um dia, a fazer uma maratona pela primeira vez, será lá fora. Não perguntem porquê. São parvoíces cá do nosso íntimo, sei lá... Gostava de fazer uma maratona e cortar a meta mostrando a bandeira nacional. É um cliché já muito visto, eu sei. Mas não me interessa. Nestas coisas sou muito portuguesinha e quando estou lá fora gosto de orgulhosamente dizer que sou portuguesa. Aliás, vi imensos estrangeiros a fazer a nossa maratona e meia-maratona ostentando as suas bandeiras. E assim é que é! Gosto disso!

Mas, ainda antes disso, tenho outros planos para mim: a minha primeira maratona não será em estrada, será em montanha. Mas isso é conversa por outra ocasião. Agora é tempo de falar do último domingo.

Contrariamente a todas as provas que fiz até hoje, no domingo de manhã não estava nada ansiosa. Sabia que tinha de encarar esta prova como um treino longo. Nem podia ser doutra maneira. Fisicamente não estava cem por cento e nem sequer tinha treinado especificamente para esta prova. Por isso não estabeleci objectivos a não ser terminar a prova e fazê-la sempre a correr. Quanto a isso, consegui e fiz a prova em 2h25m!

A prova em si não tem muito para contar. Foi uma prova que, do ponto de vista do esforço físico, foi bem gerida o que me permitiu chegar à meta - como alguém até já referiu - fresca que nem uma alface! Enfim, não tanto, diria eu...

Os primeiros quilómetros são sempre uma preocupação grande, porque tenho receio de me entusiasmar e depois não ter perninhas para chegar ao fim. Fui calma e tranquila sempre a olhar para o Garmin e a lembrar-me das palavras sempre sábias do Mister: "atenção às pulsações, não puxes!" Como menina bem mandada foi o que fiz. E correu bem.

Ao meu lado seguiu (quase) sempre o Paul Michel. Perguntando se estava bem e se o ritmo era confortável. Ao que eu respondia afirmativamente acenando com a cabeça. Tudo correu maravilhosamente bem até ao km15, momento em que se dá uma espécie de batalha campal no meu intestino, ao bom estilo de Apocalipse Now. Começo a sentir-me muito aflita, sem razão aparente, pois nem sequer ingeri o gel oferecido pela organização (e do qual algumas pessoas já se queixaram) e inicia-se uma verdadeira luta entre mim e o intestino grosso. Foi este o causador de tanto sofrimento até ao km17. O Paul Michel percebe e pergunta: "estás bem?" De imediato respondo-lhe: "cala-te, não fales para mim!"

Lutei conforme consegui. Apertei as bochechas do rabo com toda a força que tinha. Creio ter queimado aqui, em termos relativos, a maior percentagem de calorias durante a prova. Aliás, acho mesmo que os meus glúteos ficaram muito mais tonificados depois de terminar esta luta! Hoje acho que foram as litradas de Powerade que bebi, estava calor e aquelas bebidas estavam frescas, sabiam muito bem.

Depois deste martírio era tempo de rumar até à meta. E segui sem dores, sem cãibras, sem nada. Nada sentia. Apenas aquele som de máquina a funcionar: toc-toc, toc-toc, toc-toc, que não precisa de operário para a controlar. Ela rola sozinha.

Fui. Cheguei lá. Eu e ele! Ele comigo e eu com ele. De vez em quando ainda me fugiu, mas voltava para trás.



Não podias chegar-te mais para o lado, não?

Deixem passar!!!

Queria agora mandar um especial abraço a duas pessoas que tiveram a simpatia de me cumprimentar antes e durante a prova. Ainda não me tinha acontecido ser reconhecida por alguém que eu desconheço e esse alguém abordar-me porque lê o blogue. É uma satisfação enorme saber que alguém nos lê e aprecia o que escrevemos.

Em primeiro lugar, ao senhor Isac que, ainda no tabuleiro da ponte, vê-me, chama-me e diz-me: "até que enfim a encontro! Gosto muito do seu blogue". Para si, Sr. Isac, um abraço especial e muito obrigada pela sua amabilidade. Não imagina o quanto as suas palavras me deixaram contente.

Outra palavra vai para uma menina (que me arrependo de não ter perguntado o nome, mas como já ia em prova o fôlego para conversas já não era muito) que me abordou na zona da Fábrica Nacional e me diz: "olhei para a saia e olhei para a t-shirt. Vi que eras tu. Eu leio o teu blogue!" Agradeci-lhe e desejei-lhe uma boa prova. Apenas sei que tinha uma t-shirt encarnada que dizia Tarahumara. Também para ela mando daqui um abraço especial.

São também pessoas assim que nos motivam a escrever e a partilhar esta paixão pela corrida. Para todas elas, em especial ao Sr. Isac e à Menina-da-Tshirt-Encarnada-Tarahumara, para todos os desconhecidos que gostam de vir a este cantinho ler e partilhar (ou não) destas emoções um MUITO OBRIGADA e agradeço-lhes o facto de estarem desse lado. Isso basta-me.

Resta-me agradecer à "minha equipa" que, uma vez mais, com toda a boa disposição que já nos caracteriza, marcou presença numa prova. Tentamos fazer da corrida uma festa. Uma festa onde se celebra a amizade e a paixão pela corrida. A todos, uma vez mais, bem hajam!

Segue-se de seguida o habitual registo para mais tarde recordar!

Os meninos. Aço!

 As meninas.

Os Anjos de Charlie e o Chefe da Agência
 
 
Cada vez somos mais!





Os Soldados da Fortuna!


Anna Island a chegar à meta. Nem era para fazer a meia-maratona mas tomou-lhe o gosto.

Ritta Bramble e aqui do lado direito escondido Peter Days. Estava à espera dela para fazer Búúúúúú


Nós e a elite.

   Sem dúvida e cada vez mais...

Boas corridas!

 

Espera... Falta alguém... Então e ninguém pergunta pelo Jean Charles?? O Torpedo da equipa??? Andou ausente um par de meses, caladinho que nem um rato e eis que chega o grande dia e ele diz: "pessoal, vou fazer a maratona!"

E foi. E fez.


Reparem no toque exclusivo da t-shirt: a manga esquerda puxada para cima. Diz que assim sente-se mais veloz... Jean Charles, um maratonista exclusivo, portanto...

42 e mais uns trocos
 
Parabéns!

 Jean Charles, maratonista desde 6 Outubro de 2013.

4 de outubro de 2013

Serra D'Arga - Capítulo IV (e último)

No capítulo I escrevi sobre os momentos que vivi na meta. Vi chegar homens e poucas mulheres. Os primeiros vinte ou trinta, talvez, vinham com ar de quem completou mais um desafio. Arfavam de cansaço, claro, mas davam uma imagem de que se tivessem de fazer mais 10km ou 20km o fariam.

Eu e a Ritta aguardávamos ansiosamente a chegada da Babe e da Anna Island. Enquanto esperávamos alongávamos e trocávamos impressões sobre a prova. Neste entretanto, vem falar comigo uma participante com quem estivemos no início à conversa e a tirar fotografias: "sabes que ganhei? E adorei esta experiência!" Parabéns para ela se me estiver a ler. Mulher de fibra, sim senhora!

Voltamos para a linha da meta. Neste momento o Carlos Sá recebia e cumprimentava os participantes que chegavam à meta. Começava a chover novamente. Muito. Eu e a Ritta Bramble estávamos completamente encharcadas e o frio começava a fazer sentir-se no nosso corpo. Aquelas outras duas nunca mais chegam! Queríamos ir ao hotel tomar um banho rápido, trocar de roupa e voltar para a meta para esperar o Paul Michel e o Peter Days. Estes dois tinham como objectivo terminar a prova em menos de oito horas.  Por isso dava tempo para ir ao hotel e voltar. Nesta altura a prova dos 45km estava em cinco horas. Teríamos, portanto, mais três horas de espera.

Vi chegar caras conhecidas do mundo das corridas e das redes sociais, alguns habitués, por assim dizer. Aquelas caras que estamos sempre a ver onde quer que vamos. Grande parte deles nem sei o nome, mas reconheço-lhes a cara, sem dúvida.

Já escrevi sobre as emoções que senti nesta meta. Também nunca tinha estado tanto tempo numa meta. Deu para sentir e perceber o feeling daquela rapaziada a chegar ao fim. 

Cada um que chegava era o sinónimo e a certeza de que o Paul Michel e o Peter Days também chegariam. Os nossos olhos não descolavam da meta, ou melhor, do alto da rua onde começavam a surgir os participantes.


Sabíamos que a Babe estava de verde e a Anna Island de azul. Era fácil reconhecê-las ao longe. E depois também sabíamos que elas eram portadoras de uma característica distinta e muito difícil de encontrar na zona da meta: aqueles sorrisos! Permitam-me... Não havia sorrisos assim em Serra D'Arga, a não ser o delas!

Desculpem-me, mas neste campo o pódio é nosso! Let's look at the trailer:


Hihihihihi!!! Iupi... Ip, ip, urra!!



O pódio é teu Anna Island!

Agora um segredinho: e o que é que também contribuiu para aqueles sorrisos? É que estavam duas tontas na meta, eu e a Ritta Bramble, aos gritos: DÁ TUDO! DÁ TUDO! DÁ TUDO! DÁ TUDO!! Sim, porque elas vinham "picadas" com as outras três meninas que estão na foto mais acima.

No final, (pouquinhas) lágrimas nos (meus) olhos, muitos abraços e éramos quatro mulheres felizes. Terminamos o trail bem de saúde, sem casos, sem grandes quedas (o meu fofo estava óptimo!), sem grandes arranhões... E com a convicção forte de que é para voltar.


Babe, Ritta Bramble, eu e Anna Island - e, sim, estamos a dar o nosso melhor!

Bom, quem falta agora? Os miúdos. Ai, os miúdos, que será feito deles? Vá, vamos embora que eu e a Ritta já estamos geladas. Dá tempo para ir trocar de roupa.

Entramos no carro e a meio caminho entre Dem e Caminha (que distam 10km aproximadamente) toca o telefone da Ritta, era o Peter Days: "estou a 8km de chegar à meta, o Paul Michel vem já aí atrás..."

O Peter ligou à Ritta, tu não me ligaste. Podias ter ligado só a dizer que estavas bem. Mas eu espero, vá... Eu espero sempre.

What??? Já???? 8km??? Para chegar??? Epá, não temos tempo! Vamos voltar já para trás? Não, estou toda molhada e já estou com frio! Ok, então vamos ao quarto, trocamos só de roupa, nem tomamos banho e voltamos logo para a meta! Ok!

Voltámos para a meta. Oito quilómetros, disse ele... Ora, isso aqui deve dar uma horita de espera... Entretanto, pergunto a um dos atletas que já havia concluído a prova como eram os últimos 8km. Ao que ele me responde que ainda havia umas duas subidas valentes.

Bom, talvez seja mais de uma hora. Começou a chover outra vez . E parecia que até estava mais frio. Agora, já se começavam a ver chegar algumas mulheres. Fartei-me de aplaudi-las e sussurrava: "hum... para o ano sou eu!"

Sempre com os olhos postos no cimo da rua era possível, ao longe, adivinhar quando vinha um dos nossos. Mas eu nem sabia qual o equipamento do Paul Michel. Teria levado o boné? Os calções pretos? A t-shirt azul?

É agora! Os gritos da Ritta não deixavam margem para dúvida. É ele!!! Vem lá!!! Vem bem!!! Dá-se aquele encontro típico dos filmes românticos. Daqueles de fazer cair lágrima do canto do olho...

 Máquina!

 Fofinhos...

 Pensei que demoraria mais tempo para ver chegar lá ao longe aquele correr tão característico do Paul Michel. A Babe gritou: não é ele? Parece... Eu olhei e disse: É! É ele!

Caríssimos, a partir daqui não sei como escrever isto sem ser desta forma pirosa e cafona. Se o encontro da Ritta e do Peter dava um filme romântico, o meu com o Paul Michel dá uma novela mexicana!

Saio disparada da meta, faço um sprint até ao cimo da rua, começo a chorar tipo Madalena arrependida e aos gritos com ele:

"NÃO DISSESTE NADA!! PORQUE É QUE NÃO ME LIGASTE? ESTAVA PREOCUPADA! ÉS MESMO PARVO!"

Ao que ele responde baixinho: "não estejas assim... Tu já sabes que eu chego sempre... Eu chego sempre..."

Deixo-o ir até à meta sozinho, para que seja um momento só dele e depois apareço, poucos segundos depois. Foi o tempo de enxugar o rosto e não aparecer lá em baixo com cara de choramingas.

 Conseguem ver-me?


 Ao fim de 7h07m

Já todos juntos, eles e nós, foi tempo dos abraços, dos beijos, das fotos... Foi tempo de olhar nos olhos e dizer lamechices uns aos outros. Houve tempo...


   
 Peter Days e Paul Michel com o anfitrião da prova!



Família feliz!

Termina aqui a saga que me deu especial prazer a escrever. A escrita serve-me, também, para exorcizar as emoções que ainda hoje se fazem sentir. O coração ainda palpita quando penso na prova e se houvesse outra igual já amanhã eu iria.

A Serra D'Arga foi mais um contributo e prova de que a corrida de montanha veio para ficar. Continuarei a fazer provas de estrada, claro, mas a paixão pela montanha adensa-se e tudo isto por culpa de muitas pessoas.

Mando daqui um abraço especial aos meus companheiros nesta aventura que tiveram a ousadia de aceitar o desafio. Felicitações especiais ao Paul Michel e ao Peter Days por chegarem à meta ao fim de sete horas e uns trocos. Para eles os dois deixo este pensamento de um autor desconhecido:


"A corrida não é sempre para o mais rápido... Mas para aquele que continua a correr."




Serra D'Arga 2013 - Eu não fui... Fiquei.

 * * * Fim * * *

2 de outubro de 2013

Serra D'Arga 2013 - Capítulo III

Senti que ele saiu. Fechou a porta do quarto do hotel não sem antes me dar um beijo e dizer 'até já'...

Acordei pela manhã e foi só tomar um duche rápido, equipar-me a rigor (não, desta vez não fui de saia) e tomar o pequeno almoço com vista para o Rio Minho. Que dia cinzento! As previsões apontavam para chuviscos, mas o céu estava tão escuro. Enquanto degustava o meu croissant reparei que o vento era forte e os pingos da chuva eram grossos. Aguardemos por melhores momentos, talvez daqui a um par de horas a coisa melhore. Afinal de contas eram oito horas da manhã e a prova era às 10.15m.

As quatro meninas, eu, a Babe, a Ritta e a Anna, faríamos o trail de 13km. Ou outros dois meninos, o Paul Michel e o Peter Days, fariam o trail dos crescidos, o dos 45km que começou às 8h. Eles levaram um carro e nós ficámos com outro.

Eram 9h entrámos as quatro meninas no carro rumo a Dem, bem ali ao lado de Caminha.

Lembro-me como se fosse hoje, mas estava calor. A Babe disse-me: "como é que é patroa, vamos à Serra D'Arga?

Chegámos a Dem. Chovia copiosamente. Os carros eram mais que muitos e todos já estacionados nas bermas da estrada. Estacionámos a 900m do centro. Ainda dentro do carro sentiam-se os nervos. A esta altura o vidro do carro já estava embaciado. Continuava a chover e nós as quatro tentávamos vestir os impermeáveis, apertar as mochilas, proteger os telemóveis, colocar as bandas, ligar os relógios (o meu teimava em não localizar satélite)... Enfim, um sem número de coisas que ainda faltava fazer antes de alinhar na meta. Faltariam agora cerca de cinquenta minutos para o início.

Olhava para o céu e via aquele céu tão característico de meses como Dezembro, nunca aquele céu seria um céu de Setembro. Em Setembro ainda há raios de sol e pássaros a cantar.

Já andas há duas horas na serra... Está frio, está vento, está nevoeiro... O chão deve escorregar imenso. Lembras-te do que te disse?

Saímos do carro a toda a velocidade. Aproveitei e fiz um ligeiro aquecimento. Chovia bastante e não me queria molhar (agora estou a rir-me porque a esta altura ainda pensei que poderia fazer esta prova e chegar ao fim apenas com os pézitos húmidos...) Assim que chegámos ao centro de Dem procurámos um local para nos abrigar. Nada mais que a Junta de Freguesia, local onde se distribuíam os dorsais. Ali ficámos cerca de meia hora.

O sino da capela soou. Estava na hora. Rapidamente fomos até à meta e, desta vez, partimos da frente. Nunca tinha acontecido até hoje. Sempre parti do meio para trás, quando não mesmo atrás.

Os minutos de espera serviram para descontrair um pouco e ao som do 'DJ' de serviço ainda houve tempo e disponibilidade para um pézinho de dança. Rapidamente percebemos que para o ano temos uma forte chance de ser contratadas como Majoretes do Trail Serra D'Arga! Fica a dica, Carlos Sá. Cobramos baratinho, ok?

Nos  minutos que antecederam a partida o Carlos Sá avisou das condições que poderíamos encontrar lá em cima e que no segundo abastecimento seria o momento oportuno para equacionar se continuaríamos em prova ou não. Ele referiu que haveria sítios onde o acesso por meios motorizados era impossível, logo tornava-se difícil ir recolher alguém. No segundo abastecimento seria uma boa altura para pensar em continuar ou não.

Confesso, que foi a primeira prova em que participei onde o tema "desistência" foi tratado com a maior normalidade, como se desisitir fosse tão normal quanto acabar. Tal como ele falou de abastecimentos, no facto da prova ter 14,5km e não 13km, das bandeiras sinalizadoras... Falou também do tema 'desistência'.

Não desistas, não és gajo para desistir. Mas há sempre uma primeira vez, não há mal nenhum... O Sá já desistiu. Não tenho nada aquela visão que desistir é para fracos. Desistir é um sinal de inteligência. Mas deixa-nos aquela sensação estúpida... Não! Não és gajo para desistir. Acho eu...

Partimos num ambiente bastante alegre e descontraído. Cedo se percebeu que quem estava neste trail, o dos 13km que afinal foram 14.5km, queria sobretudo caminhar ou correr descontraidamente. Ninguém saiu disparado da meta a correr desalmadamente. O meu lema era: correr quando for possível, andar quando é necessário!

E assim fiz. E pela primeira vez numa prova os primeiros quilómetros nem foram os mais difíceis. Apesar de até serem a subir este primeiros quilómetros foram feitos na maior das tranquilidades.

Mas assim que saímos da estrada e começámos a entrar na serra percebi que este trail em nada tinha a ver com o da Pampilhosa da Serra. Começo a ver muito pedregulho, muita poça d'água, muitos arbustos... Tentei sempre contornar as poças d'água (outra coisa que agora me arranca uma valente gargalhada! Mal sabia que teria que atravessar um riacho!)

Logo ao segundo ou terceiro quilómetro a primeira queda. Não minha, mas de um rapariga que tropeçou numa zona de pedras e foi com o queixo ao chão. Rapidamente todos os que ali estavam ajudaram e ela levantou-se. Mãos e cara arranhada. Estava bem e disse que conseguia seguir.

E tu? Já caíste? Se fosse grave já se saberia. Antes de partir perguntei ao Carlos Sá se estava tudo bem com a prova dos 'grandes' e ele disse que só um participante é que tinha ido parar ao hospital. Era um carpinteiro. Não és tu. Não deves ter caído.

Dali em diante foi sempre em bom ritmo, alternando a corrida com a caminhada conforme as exigências do terreno. Passo o primeiro abastecimento, aos 3km, e não paro. Já nem paro nos abastecimentos!! Trouxe comigo um litro de água e não tenho fome nenhuma. Portanto, siga!

Nesta altura começam a cruzar-se connosco os participantes do trail de 21km. Começou o stress. Aquela malta vinha animada e com o gás todo! Passam por nós em grande velocidade. Admito que nesta fase da prova me enervei um bocadinho. Alguns trilhos eram estreitos, eles vinham com pressa, e a minha era relativa, e gritavam lá longe: ESQUERDA! ESQUERDA! ESQUERDA! Ok, amigo, não te enerves nem me atropeles!

E lá passavam eles e elas. E eu também fui passando. Nesta fase da prova sentia-me muito bem. Lembro-me que corri desde antes do abastecimento até ao 5ºkm. Onde se dá a viragem de performance. E porquê? Basta verem o gráfico:


A partir deste quilómetro comecei e perder ritmo. E eu que até sou tão jeitosa a fazer subidas... O pior momento da prova, para mim, foi aqui, onde dei um passo com a cadência equivalente a três:

Apenas se vê parte da escadaria. Depois da curva havia quase outro tanto.


Quando estou aqui, olho, e vejo isto... Só me lembro de respirar fundo e dizer muito baixinho: pu"#% que pariu!

Numa outra circunstância isto fazia-se bem, mas nesta altura eu já estava molhadinha até aos ossos, porque já tinha chovido bastante, já me sentia cansada, já me pesava a mochila... Sabem aquela fase em que tudo já nos faz confusão?! Já tudo nos irrita e já tudo é pretexto para reclamar? Pronto, é isso. Eu estava nessa fase. É a chamada TPM do trail.

Ainda bem que tens bastões. Deves andar a fazer subidas fantásticas, no meio de calhaus e troncos de árvores...

Antes desta escadaria tivemos o privilégio de atravessar um riacho. Nada que não se fizesse, mas com calma. Um pé em falso e era banho na certa com probabilidade elevada de partir algum osso:






Pronto! Pata no charco! Não há hipótese. Refrescas os pés e a mente!



 Ritta Bramble esteve quase, não esteve?!

Gosto muito desta sequência de fotos. Percebe-se que as sócias iam concentradíssimas. Mas mais concentradas que nós as duas estavam a Babe e a Anna Island. Para elas atravessar riachos impõe-se como um desafio de vida ou morte, quase... As expressões de zelo, concentração e minúcia a cada passo dado revelam o perfil ultra-trailiano destas duas! Ora vejam:


Queres que tire ou ponha o capuz? Como é que fico mais gira?

E o prémio Miss Simpatia Serra D'Arga 2013 vai para... Não há quem faça trails a sorrir desta maneira, pois não? Chama-se a isto em modo Baby Runner!

Há quem vá p'rá guerra, há quem vá espalhar magia! Adiante...

Passei o riacho e fiz a subida. Lá no alto estava o segundo abastecimento. Também não parei. Tinha água na mochila. Continuei em frente. E a partir daqui dá-se novamente uma virada na performance. Já vos deve ter acontecido certamente. Estamos em prova e sem motivo aparente parece que levamos uma injecção de adrenalina.

A subida interminável até lá ao alto foi feita entre nevoeiro, no meio de pedras e alguns estradões. Só me lembrava da saga do Senhor dos Anéis. Estão a ver aqueles cenários invernosos? As brumas misteriosas e incertas eram a nossa companhia, as rajadas de vento e a chuva intensa compunham aquele quadro (para mim) dantesco. Admito já aqui que nunca tinha feito nada, nem sequer caminhar, nestas condições. Havia sempre alguém por perto, atrás ou à frente, o que me deixou sempre tranquila.

Se por um acaso do destino tivesse ficado por ali completamente sozinha... (fim do momento Baby Runner mariquinhas).

Passado esta fase mais cinzentona do percurso - e em que cheguei inclusive a correr, pois a vontade em sair dali o mais rápido possível era muita e queria acabar depressa com aquela aventura -  surge a melhor fase da prova. Agora as descidas seriam o prato do dia. É deixar rolar até à meta.

Aqui surge também a parte mais feia da prova. Começámos a correr em plena serra queimada. Os incêndios devastaram muito terreno na Serra D'Arga. Um flagelo que visto e vivido é desolador. Até o cheiro a queimado incomodava. Mas lá se fez.

Nesta zona encontro um grupo de quatro pessoas que me pareceram ser boas companhias: faladores, animados e a um ritmo semelhante ao meu. Colei-me a eles. Apetecia-me ir com companhia, já andava há algum tempo sozinha. E assim foi. Lá fomos dizendo e avisando uns aos outros aqui e acolá: "cuidado, estas pedras escorregam; atenção, as folhagens são escorregadias; é por aqui, está ali a bandeirola; vá, 'bora, já falta pouco; quem quer ser agora a lebre?"

Faltavam apenas dois quilómetros para acabar a prova, já quase, quase a entrar em Dem oiço: "atenção, pedra escorregadia, com folhas e riacho ao lado"!

E eu olho e digo: "sim, sim, cuidado aqui" - dizia eu para a outra companheira que vinha atrás de mim.

CATRAPÚÚÚÚÚÚÚMMMMM

Fui com o back-side ao chão. Direitinha... Sem apelo nem agravo.

Rapidamente voltaram todos para trás, os três que seguiam na frente, e perguntaram se estava bem. Uma menina deu-me logo a mão e puxou-me. Estás bem? Estou óptima! 'Bora, não pára, não pára!

Sabia lá eu se estava bem ou não. Sabem aquela sensação em que estamos "quentes" e mesmo que tenhamos partido alguma coisa não se nota nada? Pois, era assim que eu estava. Pensei para comigo: nem penses, miúda! Agora que estás a acabar isto não te ponhas com estas merdices... Corre, mexe o fofo, ajeita o lencinho da cabeça e corre até à meta.

Acabo de cair. Sempre me disseste para procurar terreno sem pedra, mas aqui não tenho outra hipótese. É pedra de um lado é pedra do outro. Além disso os da frente passaram sem cair. É falta de jeito, eu sei. O que é que queres? Eu não tenho bastões. E mesmo que tivesse, sou maçarica... E tu, já caíste? Tanta vez te disse: cuidado, não me caias p'ra lá...

Entramos em Dem. Já se avistam pessoas simpáticas a bater palmas. Poucas, mas muito simpáticas. O tempo não estava convidativo para que a população estivesse ali à nossa espera. Continuava a chover e a fazer frio.

Na descida para a meta, este grupo com quem fiz estes últimos quilómetros, olha para trás e diz: "anda daí, corta a meta connosco!" Até hoje nunca me tinha acontecido. Ser convidada, por pessoas desconhecidas, para cortar a meta.




Cortei a meta com eles, feliz e contente, com o tempo de 2h15m. Não sei quem são, não sei o nome deles sequer. Agora arrependo-me de não ter falado no final com eles, perguntar pelos seus nomes, saber de onde são, o que fazem, qual o próximo desafio... Não o fiz, simplesmente porque assim que corto a meta e vejo o Carlos Sá dirijo-me a ele e pergunto: "como é que está a correr a prova dos crescidos?" E ele diz: "não te preocupes, está a correr bem, apenas um atleta partiu os dentes". 

Vejo a Ritta Bramble que chegou antes de mim. Damos um abraço e dizemos: "agora só falta esperar pelas outras duas. E pelos outros dois". 

Eu já cheguei. Vais demorar? Estou aqui na meta à espera da Babe e da Anna Island. Entretanto já chegaram os primeiros atletas dos 45km. É só gente com ar de Rambo e Hércules. É só homens magros, secos, musculados... Ainda não vi nenhuma mulher chegar. Algumas caras são assustadoras. A sua expressão não engana. Chegam à meta como quem saiu do inferno e entra no paraíso. Eu espero... Eu espero sempre.


(Continua)